OS DEZ ESTADOS DE VIDA
![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_sfF6Ou1mwWfTlEOXNTNsByc0Kz5GNxaENf6SgczSa9DPg_8pL2386NEnIl_7QqS6Z6fhyJXZ1a25QWAoncZkaT6ZidT6vVgeX7wmuyjWVgt4OoviFAGlRhwdCOc97VkWI24AsQ-queOFgIynWXgUAsCAMK74Ea5iZxcO2e=s0-d)
“O inferno é um estado de vida.” Alguém já deve ter ouvido esta expressão, não é mesmo? Mas...Como você descreveria o inferno? Um lugar repleto de sofrimento, com pessoas agonizando, gritando, sangrando...E o chamado Paraíso? Um lugar ermo, tranquilo e harmônico. E você? Já passou por alguma situação em sua vida, tão difícil, tão dolorosa que sentiu como se tivesse em um verdadeiro inferno?Ou então, já vivenciou um momento de realização e tranquilidade, ou já esteve em algum lugar tão bom que sentiu-se em um paraíso?
É, eu acho que já sentiu as duas coisas, não é mesmo? Algumas culturas indicam locais muito específicos para o inferno e para o paraíso. Alguns dizem que o inferno se localiza abaixo da terra e outros que o paraízo encontra-se em algum plano sobre os céus. Mas...Porque foi capaz de experimentar do céu ao inferno, sem precisar deixar o planeta terra?
I Isso ocorre porque, na verdade, o céu e o inferno existem em seu próprio coração. Nitiren Daishonin afirmou em um escrito:
“Tanto a terra pura quanto o inferno não existem fora de nossa vida; eles somente podem ser encontrados em nosso coração.A pessoa que desperta pra isso é chamada Buda; e a que ignora é denominada mortal comum.”
Vou dar um exemplo: em seu trabalho...Você seria capaz de experimentar o paraíso (o sucesso e o reconhecimento) quando recebe algum elogio, entretanto, pode descer ao mais baixo inferno (o ódio), quando, ao contrário, é atingido por alguma crítica, seja ela justa ou não.
Mas não pára por aí, manifestamos um estado de vida diferente para cada situação de nossa vida: quando estudamos ( com prazer), nosso estado mental está envolvido na idéia de aquirir novos conhecimentos. Quando compramos compulsivamente, estamos dominados pelo prazer de possuir alguma coisa nova, trazer um elemento novo para nossa vida. Quando nos apaixonamos, podemos experimentar uma profunda alegria, que imediatamente se transforma em tristeza quando passamos pelo rompimento de um relacionamento, e por aí vai...
A todos esses estados emocionais que manifestamos ao longo da vida o budismo chama de Estados de vida, e que foram classificados em 10 perspectivas emocionais. Por isso comumente utilizarmos no budismo a expressão Dez Estados de Vida.
Os Dez Estados de Vida elucidados no Budismo de Nitiren Daishonin são: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda. Os estados de vida que vão do Inferno à Alegria, são classificados como o Ciclo dos Seis Caminhos e são estados em que o ser humano encontra-se totalmente suscetível às influências do meio externo. Os estados de vida que vão da Erudição ao Estado de Buda são conhecidos como os quatro Nobres Caminhos, porque aqui a influência interna da pessoa (sua força de vontade, discernimento e sabedoria) são capazes de ultrapassar e transformar as condições externas.
Segundo o Buda Nitiren Daishonin:
“Quando observamos o rosto de alguém em momentos diferentes, vemos que algumas vezes ele está alegre; em outras, irado; e, em outras, calmo. Algumas vezes, percebemos que o rosto de uma pessoa reflete ganância, outras, tolice; e outras, perversidade. O ódio é o Inferno; a ganância é a Fome; a tolice é Animalidade; a perversidade é Ira, e a serenidade é o estado de Humanidade.”
Importante lembrar duas coisas: cada estado de vida, possui um lado positivo e negativo, com excessão do estado de Buda, que só possui o lado positivo.
Vamos começar, a partir de agora, a falar sobre cada estados de vida.
Estado de Inferno: “O ódio é Inferno.”
É o mais baixo dos estados de vida. Caracterizado por um intenso e profundo sofrimento oriundo da soma de causas externas desfavoráveis (como a perda de um emprego, o romprimento de um relacionamento, uma doença grave, a falta de dinheiro, dentre outras) e a incapacidade interna de transformar estas causas.
Neste estado de vida, a pessoa emana pouca energia vital, e por isso sente-se fraca demais para transformar aquela situação. O Estado de Inferno também pode ser caracterizado pelo impulso destruidor, pela vontade de matar ou morrer, de destruir tudo o que lhe cause sofimento. Este é o estado de vida manifestado, por exemplo, pelos suicidas.Sentimentos como o ódio, a mágoa, o rancor são os mais comuns na mente envolta pelo Estado de Inferno.
Apesar de ser o mais baixo dentre os 10 Estados de Vida, o Estado de Inferno possui um lado bastante positivo: quando você passa por uma situação de extremo sofrimento, e dela se recupera, a sua sensibilidade e experiência adquirida podem te deixar mais atento ao sofrimento de outras pessoas.
Estado de Fome: “A ganância é Fome.”
Ao ouvirmos falar neste estado de vida, podemos pensar: “Ora, mas a fome é essencial para a sobrevivência!”. Claro que sim! Sem alimento nosso organismo não emanaria a energia necessária para nossa própria sobrevivência. Mas não é apenas da fome física que estou falando. Estou me referindo ao compulsivo e incontrolável desejo de ter mais e mais.
Estou me referindo a um desejo que pode levar a pessoa à autodestruição, porque está fundado na idéia de que ainda não é o suficiente, de que ainda não é satisfatório. É preciso mais, e mais e mais... Na vida prática, estou falando do desejo que te afunda em dívidas, por exemplo, pela vontade insaciável de acumular bens materiais.
Entretanto, o desejo possui um lado positivo: pois é ele quem, em primeiro lugar, garante a sua sobrevivência aqui na Terra, seja fisicamente, pessoalmente ou socialmente. Ele te conduz ao progresso material seja no plano individual ou coletivo. A grande questão está em saber canalizar este desejo para algo construtivo e não deixar-se destruir por ele.
Estado de Animalidade:“A tolice é animalidade”
Nós, seres humanos somos animais, e possuímos, como qualquer outro animal, uma carga instintiva que, em algum aspecto nos alimenta, protege e mantém nossa existência neste planeta, tanto individualmente, como a de nossa espécie. Temos que nos reproduzir, nos alimentar, defender nossas crias e assim por diante.
Entetanto, devemos lembrar que nossa mente possui outros níveis de consciência, que vão além do desejo instintivo. E mais, viver apenas pela satisfação dos instintos ( por sexo e prazeres por exemplo ) pode nos prender a uma condição de vida em que nossa existência perde o rumo (o sentido, o propósito) ficando refém apenas da satisfação dos instintos básicos.
Outro aspecto negativo do Estado de Animalidade está na conduta de “ameaçar os fracos e temer os fortes”, como diria Nitiren Daishonin. E isso não se encerra apenas no plano físico, como no exemplo do marido que bate na mulher, mas também no aspecto hierárquico. Exemplo: o chefe que usa de sua posição e ameaça um subordinado, mas ao mesmo tempo, bajula o seu superior.
O aspecto positivo do Estado de Animalidade encontra-se, justamente, no instinto de preservação da própria vida, o que em si, já representa um salto de consciência com relação ao estado de Inferno, onde a pessoa manifesta o desejo de destruição, inclusive, da própria existência.
Estado de Ira: “A perversidade é a Ira”
Um exemplo clássico da manifestação pura do Estado de Ira são os vilões das novelas. Eles são maquiavélicos, invejosos, egoístas e dissimulados. Digo isto porque, ao contrário do que o substantivo “ira”, nos induz a pensar, o Estado de Ira não é a manifestação da raiva ou do ódio em si, pois este seria o Estado de Inferno.
O Estado de Ira é caracterizado, sobretudo por dois aspectos: capacidade de dissimulação e a necessidade de ser superior aos outros, o que se manifesta em uma atitude preponderantemente competitiva. É um estado de vida em que o egoísmo profundo induz a pessoa a acreditar que ela só será feliz, na medida em que superar os demais, seja no plano físico, social ou intelectual. Outra característica é a dicotomia existente entre o sentir e o agir, o que é compreendido como dissimulação. Pois as pessoas que vivem exclusivamente neste estado de vida podem aparentar bondade e honestidade, mas em seu íntimo viverem mergulhadas na inveja e na arrogância.
Não vou me aprofundar aqui nos aspectos psicológicos que levam alguém a mergulhar neste Estado de Vida (deixarei isto para os psicólogos! Rs) mas é importante salientar que, a despeito de todo asco que sentimos ao imaginarmos alguém manifestando o Estado de Ira, devemos compreender que os 10 Estados de Vida existem dentro de nós.
Uma professora costumava nos dizer que as novelas são lógicas e a verdade é dialética. Por quê? Porque as novelas separam os sentimentos, para que eles possam facilmente ser compreendidos pelos telespectadores e a realidade é dialética, porque no mundo real, todos os sentimentos encontram-se confusos dentro de cada um de nós. Por exemplo: nas novelas existe o protagonista que é sempre “bonzinho”, não mente, não xinga, não manifesta raiva, e ama a todos. E em contrapartida existe o vilão: que só é capaz de emanar rancor, inveja e despeito.
Mas, na realidade todos nós, alguma vez na vida já manifestamos este sentimento e por isso, sentimos ojeriza ao visualizá-los em outra pessoa.
No aspecto positivo o Estado de Ira pode nos conduzir à paixão pela justiça, à determinação de lutar pelo que é certo. Exemplo: quando alguém usa a ironia para fazer uma crítica ao governo.
Estado de Tranquilidade: “Serenidade é o estado de Humanidade”
O Estado de Tranquilidade caracteriza-se pela efêmera serenidade, paz de espírito e discernimento que nos induz ao estado de humanidade. A pessoa mergulhada nesta condição de vida é um ser humano, em toda concepção do termo, pois mantém o controle sobre suas ações, sabe discernir o que é necessário ou não para a sua evolução. É o estado de vida que uma pessoa manifesta por exemplo, quando passa por um dia tranquilo, com poucos ou nenhum contratempo. Etretanto, esta calma, como eu já mencionei no início deste parágrafo é efêmera. Ou seja, ela existe em função de condições externas que possibilitam a manutenção desta paz de espírito.
Se as circunstâncias repentinamente se tornarem desfavoráveis, existe o risco da pessoa se deixar influenciar por elas e manifestar os baixos estados de vida. Ou, por outro lado, a pessoa poderá, a partir do Estado de Tarnquilidade, manifestar os quatro nobres caminhos.
Estado de Alegria: “o mundo dos seres celestiais”
Eu poderia dizer que é o Estado de Vida mais desejado pelos seres humanos, porque ele se manifesta sobretudo pela concretização de um desejo ( a compra de uma casa, de um carro, uma viagem) ou pela solução de um problema (a cura de uma doença). É o contentamento e satisfação experimentados na sua condição máxima!
Entretanto, é importante que se saiba que o Estado de Alegria não está entre os Quatro Nobres Caminhos!
Ora, mas por que o Estado de Alegria não consta no rol dos estados de vida mais elevados, se é tão bom se sentir alegre? Porque o Estado de Alegria representa uma condição de vida totalmente dependente de condições externas, e, é claro, de condições externas favoráveis. Ocorre que, tudo o que existe no mundo está sujeito a mudanças. E a mudança destas condições favoráveis podem levar a pessoa a cair nos quatro maus caminhos.
Bom, até aqui já falamos dos Estados de Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade e Alegria, que formam, juntos, os chamados Seis Maus Caminhos. Mas porque são Maus Caminhos? Porque eles são absolutamente dependentes de condições externas, conforme foi mostrado em cada item. Não existe, aqui, uma autonomia de vontade. O poder de escolha consciente é dispensado diante das ostensivas influências de um meio que pode ser, algumas vezes tranquilo, sereno, mas, outras vezes pode ser hostil.
Os Quatro Nobres Caminhos (Erudição, Absorção, Bothisattva e Buda, pelo cotrário, representam uma escolha consciente da pessoa, um caminho trilhado diante como uma possibilidade de transformação do meio. É a consciência plena de que cada um de nós exerce influência sobre a sua própria realidade, e sobre a realidade dos outros.
O objetivo primeiro da prática budista é a felicidade. Entretanto seria difícil pensar em felicidade absoluta vivendo em uma realidade tão instável como a nossa, onde condições favoráveis e desfavoráveis se manifestam a todo momento, sobrepondo-se umas as outras.
Praticar o budismo, não presupõe um caminhar solitário em busca de uma felicidade que só vai se concretizar um dia, quando todos os seus problemas estiverem resolvidos e todos os seus desejos realizados. Na verdade, a prática do budismo pressupõe um CAMINHAR FELIZ, em meio a todo tipo de circunstância, em meio a todos os problemas, resolvidos ou não e em meio a todos os desejos realizados ou frustrados.
Neste sentido é que Os Quatro Nobres caminham se apresentam como a manifestação do potencial humano de exercer este “caminhar feliz”, independente e autônomo
Estado de Erudição:
O Estado de Erudição caracteriza-se pelo desejo de aprender através dos ensinamentos dos outros com o objetivo de alcançar a própria evolução. É um estado de vida largamente experimentado por cientistas, estudantes, e por todos aqueles que vêem no conhecimento uma fonte valorosa de libertação.
O aspecto negativo deste estado encontra-se no profundo egoísmo e arrogância que ele pode suscitar. A busca pelo próprio autodesenvolvimento pode evitar que a pessoa entre em contato com o sofrimento alheio e, ao mesmo tempo, manifeste um sentimento de superioridade com relação aqueles que não possuem o mesmo conhecimento que o seu.
Estado de Absorção:
É um Estado de Vida caracterizado pela inspiração oriunda da sua própria observação do mundo. É um estado de vida experimentado pelos filósofos, atores, pintores e profissionais do mundo artístico em geral.
O aspecto negativo deste estado de vida, assemelha-se bastante ao aspecto negativo do Estado de Erudição, pois a pessoa fica presa tão somente à busca do autoaprimoramento, esquecendo-se de se empenhar pelo bem do seu próximo.
Estado de Bodhisattva:
Uma pessoa imersa no estado de bodhsattva não busca tão somente a própria felicidade, mas a felicidade de todos. Mas esta benevolência suscitada pelo bodhisattva não pressupõe um altruísmo mendincante, ou um sentimento de pena, mas uma compaixão que se manifesta na prática de “extrair o sofrimento e conceder a felicidade.”
O que nos torna verdadeiramente humanos? É apenas as características físicas a mentais inerentes à nossa espécie? Qual o significado impressso na frase: “Aquela pessoa é tão humana!”
Certamente, ao dizer esta frase, estamos nos referindo a uma pessoa cuja conduta expressa preocupação com as necessidades dos demais. E eis aqui o cerne da conduta de um bodhisattva: a benevolência.
O lado negativo deste estado pode estar no abandono de si mesmo em prol dos outros.
Estado de Buda:
O Estado de “Buda” (iluminado em sanscrito) é a condição mais elevada que um ser humano pode manifestar. Ela é inerente a toda e qualquer pessoa, ainda que seja complicado manifestar este estado de vida em meio às pressões sociais em que vivemos. Este estado psíquico e emocional é manifestado por todos aqueles que compreendem que o real aspecto de todos os fenômenos é a própria Lei Mística (Lei de Causalidade – Nam-myo-ho-rengue-kyo).Ou seja, que tudo que ocorre tem uma causa e a nossa realidade é um reflexo daquilo que somos.
Neste estado, a pessoa é capaz de manifestar as três virtudes do Buda, que são a sabedoria, a coragem e a benevolência e, importante dizer, é o único estado de vida que não é tocado pelo carma passado.
Um meio hábil de alcançarmos o Estado de Buda em meio às dificuldades de nosso cotidiano, é a recitação diária do Nam-myo-ho-rengue-kyo (o nome dado à lei mística) diante do Gohonzon. É uma condição de vida inabalável, repleta de sabedoria e boa sorte, que pode ser experimentada, vivida e sentida diariamente, independentemente das circunstâncias externas. É a condição de vida que, quando manifesta, te permite caminhar feliz ao invés de simplesmente aguardar a chegada de uma “felicidade” vindoura.
É importante lembrar que de um estado de vida para o outro, do mais baixo para o mais alto (exemplo: do estado de Inferno para o de fome, e no de fome para o de Animalidade, etc...), vamos tendo um salto de consciência. Ou seja, se no estado de Inferno, a nossa consciência encontra-se totalmente distorcida pelas ilusões e pelo mau carma, influenciada pelas causas externas que nos fazem sofrer, no estado de Fome já apresentamos algum grau de consciência a respeito de nossas atitudes, entretanto, esta consciência ainda encontra-se embaçada pela escuridão fundamental (falarei sobre isso mais adiante) e pela idéia de que que nada é suficiente e satisfatório.
Ressalte-se, por fim, que um conceito primordial quando se pensa os Dez Estados de Vida, que é a Possessão Mutúa dos Dez Mundos (ou dos Dez Estados de Vida). Este conceito significa que um estado de vida contém todos os outros nove, ou seja: ainda que esteja manifestando o estado de inferno, em virtude de algum evento que lhe cause sofrimento, poderá, a qualquer instante, evidenciar o Estado de Buda e o mesmo vale para os outros estados de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário