“Aquele que escala uma montanha,
mais cedo ou mais tarde terá que descê-la. Aquele que despreza o outro será
desprezado. Aquele que despreza o outro, por este possuir uma bela aparência,
nascerá com uma aparência feia. Aquele que rouba alimentos e roupas cairá
infalivelmente no mundo dos espíritos famintos. Aquele que ridiculariza uma
pessoa digna que observa os preceitos nascerá numa família pobre e de posição
baixa. Aquele que calunia uma família que abraça o ensinamento correto nascerá
num lar que mantém visões errôneas. Aquele que ridiculariza quem observa fielmente
os preceitos nascerá como um plebeu e será perseguido pelo soberano. Esta é a
lei geral de causa e efeito.
No entanto, meus sofrimentos não
se atribuem a esta lei causal. No passado, desprezei os devotos do Sutra de
Lótus. Ridicularizei também o próprio sutra, algumas vezes com exagero; outras
com desdém – esse sutra, tão maravilhoso quanto duas luas brilhando lado a
lado, duas estrelas juntas, um monte Hua sobre outro ou duas pedras preciosas
juntas. É por isso que eu enfrentei os oito tipos de sofrimento mencionados.
Normalmente, esses sofrimentos aparecem um de cada vez e perduram pelo infinito
futuro. Porém, Nitiren denunciou os inimigos do Sutra de Lotus de maneira tão
voraz que todos os oito sofrimentos se manifestaram de uma só vez. Isso se
assemelha ao caso do camponês que tem uma enorme dívida para com o senhor do
seu vilarejo e outras autoridades. Enquanto o camponês permanecer no vilarejo
ou no distrito, ao invés de pressioná-lo sem piedade, seus credores talvez
prolonguem o pagamento ano após ano. Porém, se o camponês tentar ir embora,
eles o cercarão e exigirão que pague tudo de uma vez. A isso se refere o Sutra
Parinirvana com a frase: “É pelo benefício obtido por proteger a lei.”
O Sutra de Lótus ressalta: “Haverá
muitas pessoas ignorantes que o caluniarão e falarão mal de nós, que nos atacarão
com espadas e bastões, pedras e telhas...recorrerão aos governantes, ministros,
brâmanes, chefes de família e a outros monges e nos caluniarão...seremos
banidos repetidas vezes. Se os ofensores não forem atormentados pelos guardiões
do inferno, eles jamais conseguirão [pagar por suas faltas e] escapar do
inferno. Se não for pelos governantes e ministros que agora me perseguem, eu
não poderia erradicar meus crimes passados de calúnia ao ensinamento correto.”
Cenário Histórico
Esta carta foi escrita no
vigésimo dia do terceiro mês de 1272, aproximadamente cinco meses após Nitiren
Daishonin ter chegado ao local de exílio na Ilha de Sado. Daishonin a endereçou
a Toki Jonin, um samurai e destacado serviçal do senhor feudal Chiba,
comandante militar da província de Chimosa, a Saburo Saemon (Shijo Kingo), em
Kamakura; e a outros fiéis seguidores.
(...)
Na última parte da carta,
Daishonin oferece uma explanação abrangente sobre carma, ou destino. Declara
que as dificuldades pelas quais passava naquele momento derivam das ações por
ele cometidas contra o Sutra de Lotus numa existência anterior. Citando a si
mesmo como exemplo, elucida aos discípulos o tipo de espírito e de prática que
lhes permitirão transformar o carma. Ele completa dizendo que as pessoas que
propagam o ensinamento correto do budismo com certeza enfrentarão oposições
que, na realidade, representam oportunidades para transformar o carma. Aos que
abandonaram a fé e passam a criticar,
Daishonin adverte que, por essas ações, essas pessoas sofrerão as piores
consequências.Ele compara a falta de visão dessas pessoas aos vagalumes que
ridicularizam o Sol.”( Coletânea dos escritos de Nitiren Daishonin, volume 1,
pgs.324 e 325)
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